Em
Apolda, contam, há um moinho mágico. Sua aparência é de um enorme moedor de
café, mas gira de baixo para cima, e não de cima para baixo. Duas grandes
barras formam as manivelas, com as quais dois fortes serventes mantêm o moinho
em movimento.
E
que tipo de grão é moído nessa máquina? Narrarei à história como me foi
contada, mas não vou confirmar sua veracidade. Mulheres velhas são jogadas
dentro do moinho, amassadas e envergadas, sem cabelos ou dentes, e quando saem
na parte de baixo estão jovens e belas, com as faces coroadas feito maçãs.
Uma
volta do grande moinho basta. Crique-craque, e a transformação mágica está
feita. E quando perguntam às mulheres que se tornaram jovens novamente se o
processo é doloroso, elas respondem que, ao contrário, é um deleite! É como
despertar de manhã depois de uma noite bem dormida, e ver o brilho do sol em
seu quarto, ouvir o farfalhar das árvores e o gorjeio dos pássaros nos galhos.
Longe
de Apolda, continua a história, vivia uma vez uma velha que frequentemente
ouvia falar no moinho mágico. Tinha sido feliz na juventude, e desejava acima
de tudo ser novamente jovem. Por fim a velha senhora decidiu fazer uso do tal
moinho. A viagem era longa e difícil, pois a estrada subia e descia muitas
ladeiras íngremes e seguia por prados pantanosos e desertos pedregosos onde não
havia sombra alguma.
Mas
depois de algum tempo a mulher estava diante do moinho.
Quero
me tornar jovem outra vez - disse a um dos serventes que, tranqüilamente
sentado num banco, soltava baforadas em forma de anéis azulados que a falta de
brisa não desmanchava.
_
E qual é o seu nome? - perguntou o homem.
_
As crianças me chamam de Redcap - foi a resposta.
_
Sente-se aqui neste banco, então, Sra. Redcap - o homem entrou no moinho e,
abrindo um espesso livro, retornou com uma longa tira de papel.
_
Isso é a conta? - indagou a velha.
_
Oh não! - respondeu o outro. Não cobramos nada aqui; apenas assine seu nome
neste papel.
_
E por que tenho de fazer isso? _ perguntou a mulher.
O
homem sorriu e respondeu:
_
Esta é a lista de todas as tolices que você cometeu. A lista está completa até
o presente momento. Antes de se tornar jovem de novo, tem que prometer a si
mesma cometer todas as tolices mais uma vez na mesma ordem em que foram cometidas.
A lista é muito longa. De quando você tinha dezesseis anos até os trinta, houve
pelo menos uma tolice todos os dias, e aos domingos havia duas; você melhorou
um pouco até os quarenta; mas depois disso as tolices têm sido fartas, posso
lhe assegurar.
A
velha suspirou e disse:
_
Sei que tudo que diz é verdade. Não creio que valha a pena recuperar a
juventude a tal preço.
_
Também acho que não - respondeu o homem. Valeria para muito poucos.
_
Por isso o trabalho aqui é muito fácil - sete dias de descanso a semana
inteira! O moinho está sempre parado, pelo menos nos últimos anos.
_
Não poderíamos eliminar algumas coisas? - apelou a mulher, com um tapinha nas
costas do homem. Digamos que umas doze coisas das quais me arrependo fossem
suprimidas! Não me importaria de cumprir todo o resto.
_
Não, não! - respondeu o homem. Não nos é permitido eliminar coisa alguma. A
regra é tudo ou nada!
_
Pois então muito bem, não quero nada com seu velho moinho - disse a mulher
enquanto se retirava.
Ao
chegar em casa, a boa gente que veio vê-la exclamou:
Ora,
Redcap, você voltou mais velha do que quando partiu! Nunca acreditamos que
fosse verdadeira a história sobre o velho moinho.
Ela
deu uma tossidela seca e respondeu:
_
Qual a importância de ser jovem outra vez? Se fizermos um esforço, a velhice
pode ser tão bela quanto à juventude!
Muito legal. Você é uma maga?
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